Tudo começou em 2003, quando comprei meu primeiro cão, a Xeeva. Uma cadela da raça Husky siberiano, de cor vermelha, de uma criadora com bastante sotaque vinda da argentina. Vi o anuncio dela em um classificado do jornal local e eu e minha prima ligamos, marcamos um horário e fomos sozinhas. Chegando lá havia 2 opções, um machinho vermelho pequenininho e ela, uma doce e meiga filhotinha fofa. =}
Comprei uma briga bem grande com meus pais (pois na época só
tinha 15 anos e quase nenhuma responsabilidade), mas foi a melhor coisa que fiz
na vida, pois depois dela consegui achar onde eu me encaixava nesse mundão!
Os anos passaram e ela sempre foi a minha cachorrinha pet.
Levava ela pra todos os lugares possíveis (e muitas vezes impossíveis).
Com um ano começou a apresentar alguns pontinhos estranhos
no olho esquerdo que mais tarde fomos constatar que era catarata, doença
genética e super comum na raça.
Assim que tirei minha carteira de motorista qual foi a
primeira coisa a fazer? Levar a Xeeva na casa de amigos e pra conhecer a praia
e brincar! Mas então tu pensas que foi de carro não é?! De moto!!!! Peguei uma
mochila grande e coloquei a Xeeva dentro e com ela nas costas, literalmente, fomos passear. Medo da
policia era pouco...
Anos mais tarde, já em 2007/2008, eu estava pensando em cruzar a minha filhota Xeeva. Ela já estava com 4/5 anos e achei que era uma idade interessante. Ter uma ninhada, ficar com um filhote e continuar com os meus huskies. Nessa época fui atrás de mais informações sobre a raça, pois estava a procura de um macho interessante para ela. Não qualquer cão que parecesse com um husky. Pois bem, nessa mesma época estava fazendo zootecnia na universidade federal de santa catarina UFSC e vi um cartaz sobre exposições de cães perto da minha faculdade. Fiquei bem entusiasmada sobre o assunto e na data marcada fui participar (não imaginava que existia exposições de cães no Brasil). Foi quando descobri esse fantástico mundo novo que é a CINOFILIA. Foi meu primeiro contato com o kennel e criadores em um match no bairro Santa Mônica. A partir daqui comecei meu vício por cães e como meu amigo Elias comenta, “meu gene oculto pra assuntos caninos foi ativado”.
Quando comecei a pesquisar sobre possibilidades de machos
pra Xeeva vi que em Santa catarina não havia nenhum criador cadastrado e nenhum Husky que participasse das exposições realizadas no estado então comecei a
procurar no Brasil inteiro pela internet. Encontrei muitas criadores
principalmente da região de São Paulo, mas todos exigiam que a cadela tivesse
pedigree para poder cruzar... Foi então que descobri sobre o CPR, Certificado
de Pureza Racial. É uma espécia de prova para que o cão tenha o seu “falso
pedigree”. O cão é avaliado por 3 juízes de exposições de morfologia e se os
três juízes acharem que o cão é realmente da raça que o dono diz ele concedem a
possibilidade de ter o CPR, que não é o Pedigree mas é uma forma de registro (mais tarde vim a entender que CPR é a abominação dos criadores sérios e coretos).
Lá foi a Juliana tirar o CPR da Xeeva pra poder cruzar ela
com um macho interessante. Fui em um show que aconteceu nos ingleses e lá os
três juízes concederam a Xeeva o CPR. Eu fiquei muito feliz depois disso, pois
finalmente a minha filhota tinha um “pedigree” e poderia continuar os planos.
Nessa mesma época eu tive a maior sorte na minha história
cinófila porque eu conheci a Mariana Lese Hoffman, do Canil Bukharin. Se não
fosse ela eu seria hoje somente mais uma das tantas “cachorreiras” que se vê
por ai cruzando seus cães sem critério e vendendo filhotinhos com problemas
genéticos a torto e a direito. Encontrei a Mariana em um post no Orkut falando
sobre porque cruzar seu cão, a importância do pedigree e dos exames genéticos
da raça. Antes disso sempre pensei que pedigree era só pra encarecer o cão, que
todo cão deveria ter filhotes e não fazia a mínima ideia do que eram problemas
genéticos... muitos menos que se podia fazer testes pra saber se algum ser vivo
os tinha. Escrevendo isso agora chego até a rir pois toda essa informações, por
muito tempo, está livre e grátis na internet, mas nós não temos o mínimo cuidado
de procurar e querer saber mais.
A Mari começou a me abrir os olhos pra criação. Começou a me
mostrar porque cruzar cães e como fazer isso de uma forma correta. Ela abriu
meus olhos sobre o motivo de tantas raças existirem, que todas tem funções
específicas e que por isso tem determinada morfologia, temperamento e
características e que todo bom criador tem que avaliar isso na hora de cruzar
seus cães. Cruzar cães somente pra obter um filhote fofinho não é um motivo
plausível. Se você simplesmente quer um cão de companhia você pode adotar um
que realmente precisa do seu amor, alimentação e carinho.
A Mari me fez pensar sobre porque eu queria cruzar a Xeeva e
como eu poderia ser egoísta fazendo isso já que, principalmente, ela tinha
catarata desde o primeiro ano de idade, que isso seria um problema que os
filhotes dela também teriam ou carregariam.
A Mari me explicou tudo sobre huskies, de como ler o padrão
corretamente, de como eu deveria fazer pra ser uma boa criadora e não uma
“vendedora de filhotes”. Ter achado a Mari nesse “mundo cão” foi a maior sorte
que tive relacionada a cinofilia. =)
Logo em seguida conheci a Amanda. Estudante de veterinária
do Paraná. Foi a Mari que nos apresentou virtualmente. Ela falou que uma outra
garota estava começando a se interessar pela raça tbm, assim como eu. Essa
garota era a Amanda que tinha acabado de comprar sua husky piebald de um canil
do Paraná. Na hora que comecei a conversa já logo me identifiquei com ela. Uma
menina muita doce e querida e inexperiente no assunto como eu. Começamos a
conversar bastante sobre a raça e fomos fazendo um grupinho de amigas, Eu, Mari
e Amanda. A mari sempre nos aconselhando sobre todos os assuntos huskísticos.
Meses mais tarde a cadelinha que a Amanda havia comprado começou a apresentar
cinomose, doença neural grave que deixa diversas sequelas quando o cão
sobrevive. Provavelmente essa doença veio do criador que assim como o da Xeeva,
não fazia nenhum tipo de cuidado ou exame pra prevenir isso. E assim como a
Xeeva nem ao menos pra se preocupar com pedigree o canil se preocupou.
Principalmente depois do acorridos que a cadelinha da Amanda morreu por essa
terrível doença nós começamos a realmente prestar atenção sobre a criação e
sentir na pele (a Amanda mais que eu) como poderia ser bem arriscado e sério a
criação de cães. Todo cão é uma vida e o criador é quem se responsabiliza por
essa pequena vida que permitiu nascer. Seja um cão, gato, coelho, cavalo. O
criador é responsável por esse ser que programou e planejou vir a vida e de como
isso poderia ser importante e “arriscado” ao mesmo tempo.
Continuamos muito amigas e fofocando quase que todos os dias
até que consegui convencer a minha família que queria um outro cão. Agora um
cão vindo de um bom criador que fizesse exames e que servisse pra minha futura
criação. A Mari me falou de um criador na Argentina que fazia sempre os exames
de fundo de olho nos cães dele e que nesse época estava com ninhadas. Consegui o
contato dele e ele me disse de uma ninhada que havia acabado de nascer em 8 de
março. Inicialmente eu queria outra fêmea, mas infelizmente (ou hoje felizmente)
só havia um macho disponível. Minha família em maio iria viajar pro Uruguai e
eu aproveitei pra trazer o meu cão que estava na argentina já que era somente
necessário fazer uma viagenzinha de buquebus. Marquei com o criador e fui lá
pegar o meu mais novo husky e responsável ainda mais pelo meu amor a raça.
Dmitri, Dagger del Ykpahia estava vindo. Fui lá em Buenos Aires buscar meu novo
bebe. Voltei pro Brasil com o meu mais novo filho. Todos os meus parentes e
amigo achavam um absurdo o que eu paguei nele pois “era só um cão”, mas hoje
vejo que proporcionalmente paguei muito pouco perto de toda alegria que ele já
me deu. Comecei os treinamentos pra show e truques afinal esse seria o meu cão
“top” exemplo pra tudo que eu gostaria que a minha criação fosse. Desde
pequenininho fiz os treinos certinhos, alimentação adequada, levei nas
exposições desde os 4 meses, tirei todos os títulos Brasileiros e quando
possível os internacionais também.
A Xeeva foi minha primeira Husky, mas o Dmitri foi o Husky
mais importante na minha criação e da minha vida, pois com ele pude realmente aprender o que era
criação, show, treinamento e Husky de verdade. Com ele que pude mostrar o que eu queria pro meu
futuro de cinofilia.
Ele mais que a Xeeva pode aproveitar realmente muitas
viagens, praias, brincadeiras, shows...
Mas tendo somente um macho não poderia dar continuidade a minha
criação e em 2011, depois de ter contato com a raça por mais de 8 anos e
estudar ela a fundo por mais de 3 anos comecei a procurar fêmeas. A Mari
novamente soube de uma ninhada do canil St Lazarus. Um canil muito bom e sério
da Guatemala. A ninhada em questão era de um cão muito correto vindo dos Estados Unidos de uma linha muito boa e saudável e uma fêmea do mesmo canil do Dmitri,
Del Ykpahia, que também era muito boa e saudável já que ambos os criadores
desses cães realizaram os exames de saúde nos cães.
Comecei a ficar bem interessada na ninhada, pois era o que
estava pensando pra minha criação, mas não poderia ter mais um cão, pois não
tinha espaço e tempo pra dedicar a ele, foi então que tive a terceira maior sorte
na minha vida cinófila, conheci a Katiane Nordeles do Rio Grande do Sul. Nós
nos identificamos muito rápido. Ela havia recentemente acompanhado as nossas
discussões pelo Orkut e queria muito começar a criar também. Fazia pouco tempo
havia comprado 2 cães do Paraná. Ficamos muito amigas
e então as idéias começaram a pipocar nas nossas cabecinhas... Seria uma ideia
muito boa se ela pudesse ficar com a cadelinha da Guatemala, essa cadelinha
viveria com ela e seria dela, mas eu buscaria a cadelinha na Guatemala e
faríamos uma copropriedade da cadelinha.
A Kati achou a ideia perfeita e então começamos a organizar
as coisas pra viagem. Em março lá foi a juliana, a mãe dela, Edite, e uma tia,
Eliana, pra Guatemala buscar essa nova cadelinha e conhecer o país. Chegando lá conheci as criadoras da cadelinha, Maria Elisa Alvarez e Corina Gonzalez. Pessoas fantásticas com uma
criação muito séria e correta e de uma personalidade muito forte e rigidamente correta. Essas características me fizeram gostar ainda
mais da criação delas e de seus cães e realmente entender ainda mais em como
gostaria de ser daqui alguns anos com a minha criação. Maria Elisa
me ensinou muitas coisas sobre huskies em tão pouco tempo que estive lá, nós
também ficamos muito amigas e com um elo muito forte que foi a nossa nova
filha, Krasivy – St. Lazarus Gaiatry.
Trouxemos a nossa mais nova menina pro Brasil. Ela com
certeza era muito mais do que esperávamos. Tinha uma ótima estrutura, linda
cabeça, era muito dengosa. Seu tamanho era pequeno, mas sendo fêmea e estando
dentro do padrão isso era o que menos importava. Já no primeiro mês que ela
chegou no Brasil participou do Sled Day e logo em seguida de uma exposição de
morfologia. Ela com certeza era a cadela certa pra começar a criação que
tanto sonhei.
Levei ela para casa da Kati e enquanto isso continuei as
exposições e treinamentos com o Dmitri. Fomos em diversas exposições no ano e
em uma em especial que foi a SICALAM, maior exposição da América do Sul no
Uruguai, montevidéu. Eu já tinha certeza que realmente gostaria de começar a
minha criação com o Dmitri e nessa exposição pude ter ainda mais certeza quando
ele ganhou 2° de BISS na especializada de grupo no evento. Eu quase não
acreditei, fiquei sem palavras na hora, foi uma das melhores sensações que tive
na cinofilia desde que comecei. Um acontecimento que será sempre inesquecível
pra mim. Junto dessa exposição aconteceu outra ponto importante da minha
história cinofilia que foi quando tive que entregar TEMPORARIAMENTE o Dmitri
pra uma amiga no Uruguai. Ela ficou como responsável do
meu filho durante um ano, pois eu iria viajar pra Irlanda pra aprender inglês. Eu não podia perder essa oportunidade e
ainda mais agora que estava começando a minha criação e tinha poucos cães pra
ainda poder cometer algumas loucuras. Dmitri ficou no Uruguai e eu
voltei sem nenhum filhote pra casa.
Finalmente chegou a hora de eu viajar. Krasivy com a
Katiane, Dmitri no Uruguai, Xeeva com meus pais. Todos os meus cães estavam
seguros e eu poderia viajar tranquila.
Chegando na Irlanda fui logo na primeira exposição que
aconteceu em Dublin, no dia 12 de novembro de 2011. Amei a exposição e pude ver
muitas coisas diferente da cinofilia brasileira a começar com o número de cães no evento e a quantidade de pessoas la. Ambos eram pelo menos 10 vezes mais! Nessa exposição, meio que sem
querer, conheci uma criadora em especial, Sue Holmes do canil Suraliam. Nos
conhecemos muito timidamente nesse dia e achei que não seria tão fácil fazer
bons amigos na Irlanda (nem tão rápido assim).
Essa foi a 4º melhor coisa que me aconteceu na minha vida cinofilia, ter conhecido a Sue e o Ralph. Pessoas maravilhosas que me ajudaram e me ensinaram ainda mais sobre huskies.
E de aqui por diante continuo escrevendo e vivendo esse
mundo cinofilia que acontece a cada exposição, a cada match, a cada contato com
criadores de diferentes idéias, mas o mesmo objetivo de criam cães saudáveis e
aptos pra suas funções.
Juliana Xavier Danielewicz
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